Cerveja procura seu espaço no país da vodka
Os gigantes da cerveja viram uma queda de 10% nas
vendas internas nos primeiros nove meses deste ano
“Por
alguma razão desconhecida, a cerveja estrangeira na Rússia está se tornando
rapidamente parecida com a nacional”, diz, em tom de brincadeira, Ígor
Arnautov, analista da Investkafe.
Mas tal
metamorfose não deve surpreender. Os maiores produtores estrangeiros há muito compraram
as principais fábricas de cerveja da Rússia e produzem nessas instalações as
marcas estrangeiras mais populares na Rússia. A parcela do mercado das
importadas é de apenas 2,5% (cerca de 250 milhões de litros por ano).
Os
gigantes da cerveja viram uma queda de 10% nas vendas internas nos primeiros
nove meses deste ano. A União dos Cervejeiros Russos prevê que a contração do
mercado continue, pelo menos, até o final de 2014.
Isso
porque eles planejam deixar de comercializar cerveja em embalagens de plástico
com mais de 2,5 litros, comuns na Rússia, assim como cervejas fortes, com mais
de 6 graus de teor alcoolico, em garrafas com mais de dois litros, a partir do
dia 1° de janeiro de 2014.
Os
cervejeiros deram esse passo voluntariamente para mostrar boa vontade com a
política de redução do abuso de álcool no país, segundo comunicado da união. De
acordo com Arnautov, até o final de 2014 o mercado sofrerá uma redução de 25% a
30%, comparado ao de 2008.
Consolidação
Hoje, a
Rússia ocupa o 29º lugar no ranking mundial de consumo de cerveja, segundo
dados da união, com um consumo anual de 65 litros por pessoa. Para o diretor do
Centro de Pesquisa dos Mercados Regional e Federativo do Álcool, Vadim Drobiz,
porém, o número chega a mais de 70 litros.
Em 2007, quando foi registrado o pico
de consumo de cerveja na Rússia, o aumento foi de 5,5 vezes em relação a meados
da década de 1990. Nesse ano, cada russo consumiu 81 litros.
“Ao
entrar no mercado nacional, as marcas estrangeiras o consolidaram e, obtendo direitos
ilimitados de acesso à publicidade, conseguiram excelentes
resultados. Em 2007, eles já controlavam 92% do mercado”, diz. O primeiro
alerta aos fabricantes eufóricos veio da demografia. De 1992 a 1999 a Rússia
viu diminuir significativamente sua taxa de natalidade. Como resultado, em
2007, havia quase três vezes menos jovens do que o habitual consumindo cerveja,
e as vendas começaram a cair. A crise de 2008-2009 só veio agravar ainda mais a
situação.
“Um
antidepressivo clássico são as bebidas alcoólicas fortes”, afirma Drobiz. E
quando a economia começou a ter problemas, o consumo mundial de bebidas
alcoólicas fracas diminuiu em favor de bebidas fortes, inicialmente mais
baratas. Como resultado, em 2010 o consumo da cerveja caiu para 72 litros por
pessoa ao ano.
Nesse
mesmo ano, o governo russo, cansado de essa indústria imensa não contribuir
praticamente com nada para o Tesouro, interveio no mercado e aumentou o imposto
sobre o consumo. Antes disso, o orçamento recebia apenas 30 bilhões de rublos
(cerca de R$ 2,1 bilhões) pelos 10 a 11 bilhões de litros que os russos bebiam
anualmente.
O aumento
do imposto não influenciou fortemente o volume da produção, que cresceu entre
2011 e 2012. Além
disso, o mercado ficou inundado de cerveja ilegal – que, segundo Drobiz, passou a compor mais de 8%
do mercado (cerca de 800 milhões de litros).
Por outro
lado, pequenas e médias empresas russas passaram a receber apoio do governo, e
também novas grandes fábricas continuaram a crescer (por exemplo, a MPK).
Mais quedas
Neste
ano, o catalisador da queda nas vendas foi a proibição da venda de cerveja em
quiosques (desde 1° de janeiro de 2013). Assim, a cerveja perdeu cerca de 200
mil pontos de venda em todo o país.
De acordo
com Andrêi Altúnin, diretor-geral da “Pivnáia Kompania” (do russo, “Companhia
Cervejeira”), as grandes empresas reduziram sua produção e vendas, em média, em
20%. “O Serviço Federal de Regularização
do Mercado Alcoólico quer reduzir o consumo de álcool na Rússia em até 50% até
2020. Isso significa que haverá mais restrições nas vendas de cerveja”, diz.