FRANK MARTINS
Durante uma balada, em uma casa noturna na região centro-sul
de Belo Horizonte, fui até o balcão e pedi ao atendente uma cerveja sem álcool.
O funcionário respondeu da seguinte forma: ‘qual que você quer?’ Se imaginarmos
a mesma cena há, pelo menos, um ano, provavelmente a resposta seria que o
estabelecimento não trabalhava com cervejas do gênero ou que tinha apenas uma
marca a oferecer.
Isso mostra uma adaptação à nova realidade dos bares e
restaurantes da capital mineira, que lamentam a queda no movimento e no
faturamento dos negócios, principalmente após o maior rigor da Lei Seca, que
aumentou de R$ 957,65 para R$ 1.915,30 a multa de quem for pego dirigindo após
ingerir bebida alcoólica, além da retenção do veículo e da habilitação. Segundo
a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes de Minas Gerais (Abrasel),
houve queda de 20% na venda de bebidas alcoólicas e de 10% no movimento nos
bares da cidade.
Após passar pelas fases do táxi, do rodízio de amigos para
ser o motorista da rodada, da tentativa frustrada de utilizar o transporte
público durante a madrugada em Belo Horizonte, e de até ir a pé para um bar
mais perto de casa, agora as cervejas sem álcool parecem ser realmente as novas
vedetes das baladas para quem quer sair de casa com o carro e não abre mão de
uma cerveja. Mas, beber essas chamadas cervejas sem álcool é realmente seguro?
Para tirar essa dúvida, escolhemos cinco marcas de cervejas
sem álcool vendidas nos supermercados de Belo Horizonte (Brahma 0,0%, Liber,
Itaipava 0,0%, Schincariol 0,0% e Bavaria Sem Álcool).
Com o auxílio da Polícia Militar de Minas Gerais, que
forneceu o bafômetro para auxiliar na reportagem, o teste foi realizado com
cinco jornalistas da redação de O TEMPO. Cada um bebeu duas latas de cerveja,
com 350 ml cada, e esperou um intervalo de 10 minutos entre cada uma para
soprar o bafômetro. Foram testadas quatro marcas totalmente livres de álcool e
uma com baixo teor (0,5% de álcool).
Com a supervisão da Polícia Militar, todas as cinco marcas
de cerveja utilizadas no teste passaram no bafômetro sem acusar nenhuma
concentração de álcool.
Mas é importante ressaltar que são vários os fatores que
influenciam nos números que aparecem no teste do bafômetro. Entre eles, a
idade, o sexo, a alimentação ingerida junto com a bebida alcoólica, até as
características físicas da pessoa e o tempo entre o uso da bebida e a
realização do teste.
Cerveja sem álcool é cerveja mesmo?
Muitos bebedores viram o rosto e fazem até cara de nojo
quando o assunto é cerveja sem álcool. Só que, de acordo com a jornalista e
sommelière de cerveja Fabiana Arreguy, a cerveja sem álcool é um tipo de
cerveja sim, e não um suco de cevada como alguns leigos no assunto costumam se
referir. Segundo Fabiana, as cervejas sem álcool são produzidas em um processo
de fermentação interrompida. Dessa forma, acontece uma inibição da produção de
álcool na mistura de malte e água aquecidos.
Mas isso não quer dizer que o gosto seja o mesmo das
cervejas convencionais. Diferente do resultado positivo no exame do bafômetro,
a maioria das cervejas zero são reprovadas pelos consumidores no quesito sabor.
Geralmente essas cervejas têm um gosto mais adocicado e a sensação maior de
amargor do lúpulo após a ingestão. “Na minha opinião, o sabor fica muito
prejudicado com a fermentação incompleta. Mas acho de extrema importância a
existência delas, pois oferecem o direito, a quem tem restrições ao álcool, de
tomar cerveja, cuja característica maior é ser agregadora, abraçar todo tipo de
público, e de ser uma bebida democrática”, ressalta Arreguy.
Apesar de ser mais comum encontrar no mercado as zero de
Pilsen e de trigo, para informação dos adoradores da bebida da deusa Ninkasi,
tecnicamente, qualquer cerveja pode ser produzida sem álcool. Para isso, basta
que o cervejeiro aplique as teorias da inibição da produção de álcool ou da
retirada posterior (quando a cerveja é produzida normalmente e, depois, passa
por equipamentos que separam o álcool).
Os investimentos neste tipo de bebida
O segmento de cerveja sem álcool tem grande potencial. Na
Espanha, tem 15% do mercado total de cerveja; nos EUA, 5% e no Brasil, apenas
0,3%. O consumidor está mais consciente em relação à Lei Seca e ao consumo
responsável, mas não abre mão do sabor de uma cervejinha.
Pesquisas recentes também revelam outra tendência global
relacionada à queda no consumo do álcool. No ano passado, 2,2 milhões litros de
cerveja não-alcoólica foram consumidos no mundo, um aumento de 80% na
comparação com o consumo registrado cinco anos antes, em 2007.
No Brasil, a Ambev está no mercado das cervejas sem álcool
desde os anos 90 e é líder do segmento. Recentemente, ela lançou a Brahma 0,0%,
em latas de 350 ml e garrafas long neck. Segundo a empresa, a Brahma 0,0% é
resultado de três anos de pesquisa e de um grande investimento em processos e
equipamentos, que gerou a produção de mais de 84 tipos diferentes até chegar no
modelo disponível no mercado.
De acordo com o gerente de marketing da Brahma, Nilson
Kalili, este novo produto é mais uma evolução na categoria das zero. “Trazemos
para o mercado a cerveja com o sabor que os consumidores querem em uma opção
sem álcool”, afirma Kalili. Os ingredientes, de acordo com a fabricante, são os
mesmos que os de uma cerveja pilsen: malte, cereais não malteados,
carboidratos, lúpulo e água. E essa será a cerveja sem álcool oficial da Copa
do Mundo FIFA de 2014.
Fonte: http://www.otempo.com.br/interessa/jornalistas-bebem-cerveja-sem-%C3%A1lcool-e-fazem-o-teste-do-baf%C3%B4metro-1.743224
Fonte: http://www.otempo.com.br/interessa/jornalistas-bebem-cerveja-sem-%C3%A1lcool-e-fazem-o-teste-do-baf%C3%B4metro-1.743224
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