O uso responsável da água: Principal produto da cerveja, a
água é o elemento mais aplicado neste tipo de indústria, desde a formação da
bebida até a lavagem de embalagens, máquinas e equipamentos. Um dos processos
em que se mais utiliza a água é o resfriamento do mosto por meio de trocadores
de calor para que este atinja a temperatura ideal de inoculação das leveduras.
O resfriamento rápido, evita a fixação de dimetil sulfeto no mosto, evitando
que a cerveja fique com um gosto vegetal. A água, ao invés de ser descartada, é
enviada para torres de resfriamento e é armazenada em caixas d’água criando um
sistema fechado de circulação interna voltada ao reuso em diversas outras
etapas, como por exemplo, na fase de pasteurização de cervejas. A água de chuva
é também reaproveitada no ambiente fabril, sendo esta utilizada para a limpeza
externa e para molhadura de áreas verdes.
A cevada como fonte de nutrição: O malte de cevada é um dos
principais ingredientes da cerveja. Depois de processada a cevada se transforma
em bagaço. Para a Cervejaria Krug Bier, localizada em Nova Lima, o bagaço de
cevada é enviado para o Seu Carlos, produtor rural que possui uma pequena
fazenda no interior de Minas Gerais. Na propriedade rural, o bagaço é separado
em duas partes. A primeira é destinada à fertilização do solo por meio de um
sistema de adubação. A segunda é voltada à alimentação do gado. O bagaço de
malte é ainda aproveitado na própria cervejaria ou ainda por clientes na
confecção de pães onde, ao ser misturado com farinha de trigo especial, produz
excelentes pães do tipo gourmet. (Nota: em grandes indústrias a cevada vem
sendo utilizada como biocombustível, sendo queimada em caldeiras para formação
de vapor).
O aproveitamento de gás carbônico: Durante o processo de
fermentação, o mosto cervejeiro produz gás carbônico, um subproduto originário
da transformação dos açúcares do mosto em álcool. Ao invés deste gás ser
enviado para a atmosfera impactando o efeito estufa, este elemento passa por um
processo de limpeza e em seguida é compactado em cilindros para ser reutilizado
em outras etapas de fabricação da cerveja, seja no processo de sanitização de
barris, seja na extração de cerveja em chopeiras ou ainda no envase ou
embarrilhamento da bebida. Cervejarias de grande porte possuem tecnologia capaz
de comprimir gás carbônico em até 70 bar de pressão, levando-o ao estado
líquido, para ser armazenado em cilindros apropriados.
O emprego eficiente da energia: Toda empresa deve ter o
compromisso de minimizar o consumo de energia, investido em tecnologias e soluções
que possam reduzir seus impactos. Na cervejaria mineira Sátira, o uso de telhas
translúcidas no galpão industrial é uma realidade. Os efeitos são a redução
eminente do consumo de energia elétrica. Em outras cervejarias, a troca de
lâmpadas de vapor de mercúrio ou sódio por lâmpadas de LED (“light emitting
diode”), trouxeram economia de consumo, redução de calor e maior longevidade de
uso, uma vez que este tipo de luz dura em média 50 mil horas e as demais
lâmpadas duram, aproximadamente, 10 mil. A energia solar é também é utilizada
no auxílio do aquecimento da água cervejeira, reduzindo o consumo de gás
natural, este substituto do gás liquefeito de petróleo (GLP).
A reciclagem de embalagens: Diversas cervejarias no país
passaram a praticar a reciclagem visando eliminar desperdícios. A cervejaria
catarinense Lohn Bier, reutiliza as diversas sacas de malte as transformando em
sacolas, feitas por costureiras da região. Após customizadas, elas são
reutilizadas por empregados e clientes. Caixas de papelão, invólucros
plásticos, garrafas e latas são enviadas para catadores de materiais reciclados
que encaminham para diversas empresas especializadas. Atualmente, o uso de
growlers e sifões (reservatórios de cervejas laváveis que são reenchidos, por
meio de envasadoras específicas) estão sendo utilizados por consumidores,
reduzindo o consumo de garrafas “one way”.
Por fim, outros atos que correspondem à uma Cervejaria
Sustentável são: a prática da ética e a conduta da integridade; a contínua
atenção e prestigio à comunidade, através da geração de emprego, renda e a
formação de profissionais de alta performance, capazes de repensar como são
utilizados os recursos atuais, apresentando inovações cada vez mais
sustentáveis e; acima de tudo, ser um contribuinte de impostos pagando-os ao
Estado e destinando parte destes à projetos sociais, visando a promoção da
cultura, do esporte e da educação, (incluindo a conscientização do consumo
moderado ou seja “beba menos, beba melhor”), firmando a cervejaria como um
membro ativo e bem-vindo na comunidade em que convive e entre os seus clientes,
fornecedores e demais stakeholders, que confiam em seus produtos e nas suas
convicções e crenças. No futuro, uma cervejaria sustentável certamente será
diferencial competitivo de mercado. Vida longa as cervejarias sustentáveis!
Um brinde!
*Henrique Oliveira é
escritor, pós graduado em Controladoria e Finanças pela FGV e é gestor de
governança, riscos e Compliance do ramo siderúrgico. Palestrante, é consultor
do segmento de cervejarias, proprietário da marca Cerveja Ave César e autor do
livro “Brasil Beer – O Guia de Cervejas Brasileiras”.
Marcadores: boas práticas sustentáveis, Cerveja Sustentável,
cervejaria sustentável, Sustentabilidade
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