Em alta nos EUA, cerveja artesanal vira negócio para
europeus
Aquisições ajudam empresários a pegar carona num mercado em
expansão
The New York Times | 25/10/2013 06:00:00
Adquirir a Boulevard dará a Duvel a posse de uma cervejaria
artesanal grande dos EUA que é bem conhecida no Meio-Oeste e produz uma
variedade ampla de cervejas com o seu próprio nome e com outros.
As marcas da Boulevard variam da Cerveja Lupulada de Trigo
80 Acres, descrita como cítrica com um sabor levemente doce e levemente amarga,
à Dark Truth Stout, uma cerveja "escura" com nuances de chocolate,
café e frutas.
"Vejo aqui na Europa que os consumidores estão se
interessando cada vez mais nas cervejas artesanais americanas", diz Michel
Moortgat, um dos três irmãos proprietários da Duvel. "No futuro, com essa
parceria, poderemos desenvolver mais substancialmente o gosto por essas
cervejas aqui e em outros países como o Japão e a China".
Resultado com aquisições
A Boulevard, a 12ª maior cervejaria artesanal dos Estados
Unidos, tem uma distribuição que se aproxima a 180 mil barris este ano. A
aquisição lhe dará acesso a uma distribuição mais ampla no mercado doméstico e
uma abertura nos mercados internacionais usando o sistema mundial da Duvel.
Enquanto grandes marcas de cervejas como a Budweiser e a
Coors têm lutado com vendas estagnadas, as cervejas artesanais ficaram cada vez
mais populares. Novas cervejarias foram inauguradas no ano passado ao ritmo de
uma por dia. Existem uns 2.600 fabricantes de cervejas artesanais nos Estados
Unidos, e o volume das vendas de suas cervejas cresceu 11% em 2011 e 14% em
2012, segundo a empresa de pesquisa de mercado Technomic, atingindo quase 13
milhões de barris.
A Technomic tem expectativa de crescimento semelhante este
ano e coloca a participação da cerveja artesanal no total do mercado de
cervejas em 6,3%. Donna Hood Crecca, diretora sênior do grupo de recursos de
bebidas para adultos na Technomic, afirma que o crescimento da cerveja
artesanal de hoje era diferente da moda da microcervejaria no começo dos anos
1990, que esfriou com exceção de algumas cervejarias como a Boston Beer Co.,
fabricante da Samuel Adams, e a Brooklyn Brewery.
"O paladar do consumidor evoluiu e está mais
interessando nas nuances de sabor e nas complexidades inerentes aos estilos das
cervejas artesanais", explica Donna Crecca. "Além disso, há o
interesse geral nos produtos alimentícios e bebidas locais fabricados
artesanalmente, e as cervejas artesanais são bem apropriadas para a tendência,
geralmente com uma história interessante ou excepcional e um sentido de
autenticidade".
Novos sabores
O consumo das cervejas artesanais está crescendo rapidamente
entre os consumidores hispânicos, cujos paladares favorecem os tipos de sabores
com especiarias e frutas que são características das cervejas artesanais. As
mulheres, que há muito preferem vinho à cerveja, também aderiram à onda,
formando grupos de consumo de cerveja com nomes como Crafty Ladies em Denver e
Barley's Angels, que tem unidades pelos Estados Unidos.
"Sempre que você entra em um local de degustação ou em
algum bar com mais de dez chopeiras, 30% a 40% dos fregueses são
mulheres", afirma Carol Dekkers, que abriu a segunda unidade do Barley's
Angels em Tampa, Flórida. "Beber cerveja artesanal é como ser introduzido
à fina comida italiana de verdade quando você só comia pizza do Pizza
Hut".
Interesse crescente
As redes de restaurantes como a Cheesecake Factory e a Ruby
Tuesday estão instalando chopeiras em seus bares, e os donos de mercearias
estão criando espaço para cervejas artesanais em suas vitrines refrigeradas.
"Uma cerveja lager clara americana não mais satisfaz todos os amantes de
cerveja", diz Julia Herz, diretora do programa da cerveja artesanal da
Associação dos Fabricantes de Cerveja, o grupo comercial da indústria da
cerveja artesanal. "As vendas de cerveja clara caíram, e a maioria das dez
marcas principais está perdendo participação no mercado".
Isso não quer dizer que empresas como Anheuser Busch, Molson
Coors e SABMiller estão fora da disputa. A Tenth and Blake Beer Co., controlada
por um empreendimento conjunto entre a Molson Coors e a SABMiller, fabrica a
Blue Moon e a Leinenkugel's, e a Cervejaria Goose Island em Chicago foi
comprada em 2011 pela Anheuser Busch, que pertence a gigante InBev. Porém, os
nomes das maiores cervejarias não constam nos sites dessas empresas ou nas
garrafas das cervejas que elas fabricam, o que tem sido uma fonte de
controvérsia no mundo das cervejas artesanais.
Cerveja artesanal: pequena e independente
A Associação dos Fabricantes de Cerveja, que apelou para que
os gigantes da cerveja coloquem o nome nas garrafas das cervejas artesanais,
define a cerveja artesanal como "pequena, independente e
tradicional". Isso significa, explica Julia Herz, que uma cervejaria
produzindo 6 milhões ou menos de barris por ano – um limite menor foi
descartado quando a cerveja Samuel Adams o excedeu – e pode incluir a posse
parcial de menos de 25% por uma empresa de bebidas alcoólicas que não seja
fabricante de cerveja artesanal.
Se uma cervejaria não entrar na classificação do grupo
comercial, ela não pode fazer parte da associação com direito a voto. "Por
tradicional, queremos dizer todas maltadas, usando suplementos como o milho e o
arroz apenas para realçar o sabor, não para clareá-la, que é como a maioria dos
fabricantes de cerveja caseiros utiliza esses grãos", explica Julia.
Embora a Duvel seja a segunda maior fabricante de cerveja da
Bélgica atrás da InBev, Julia diz que a aquisição da Cervejaria Ommegang,
fabricante de uma cerveja artesanal em Cooperstown, Nova York, não tinha
custado a Ommegang o status de artesanal pelas regras da associação. Moortgat,
sócio da Duvel, conta que estava um tanto preocupado com o fato de que a
Boulevard não seria considerada uma cervejaria artesanal pelos membros da
associação por causa do seu novo proprietário. "Porém, primeiro deixe-me
dizer que, se olharmos os barris vendidos, a InBev vende 500 vezes o número de
barris que vendemos", afirma.
Produção em alta
A Duvel e suas outras cervejarias europeias, que incluem a
La Chouffe e a De Koninck, venderão aproximadamente 700 mil barris este ano,
explica Moortgat, enquanto a Ommegang venderá cerca de 45 mil. Moortgat, sócio
da Duvel, afirma que as vendas estavam a caminho de atingir cerca de € 200
milhões (US$ 270 milhões) no final deste ano, uma alta partindo de
aproximadamente € 180 milhões no final do ano passado quando a empresa mudou
para capital fechado, com os lucros aumentando mais ou menos no mesmo ritmo.
"Já fizemos aquisições e sempre realmente nos
asseguramos de que respeitamos as particularidades delas, as suas tradições, as
suas autenticidades", declara Moortgat. "Em vez de buscar sinergias e
eficiências de custos, tentamos desenvolvê-las nos moldes que elas seguiriam se
não estivéssemos envolvidos". O empresário conta que a Duvel continuaria a
investir nas instalações de produção e nos equipamentos da Boulevard, e que a
equipe de vendas da Boulevard comercializaria as cervejas da Duvel em suas regiões
enquanto a equipe da Duvel americana venderia as cervejas da Boulevard na costa
Oeste e Leste dos Estados Unidos.
"Uma das coisas que temos de entender é que os
fabricantes de cerveja artesanal americana são mais criativos, mais ousados do
que somos na Europa, e não queremos mudar isso", declara o empresário. Em
um sinal da criatividade americana, a Duvel há três anos criou uma cerveja de
frutas feita de coisas como morangos, framboesas e bagas de sabugueiro. A
empresa queria sugerir que ela fosse servida com gelo para torná-la mais
refrescante, relata Moortgat, mas tinha a preocupação de "que toda a
indústria gritaria conosco – 'Não se pode colocar cubos de gelo na
cerveja'".
A cerveja de frutas da Leifman com gelo acabou sendo um
sucesso na Europa, mas e quanto a cerveja Ale de Torta de Creme de Banana com
Coco? "Uma das coisas que eu mais gosto sobre a cerveja artesanal é a
colaboração que temos com outras cervejarias", diz Carol Dekkers, dona da
Barley's Angels. "Como no ano passado, um fabricante da Angry Chair se
reuniu com o seu companheiro de quarto, que faz cerveja para a Cigar City, após
terem visto uma receita de torta de creme de banana com coco em uma feira de
gastronomia e fizeram uma cerveja de torta de creme de banana com coco".
"Não gosto de sobremesas", diz a empresária, "mas, nossa, ela
estava tão boa".
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