domingo, 27 de outubro de 2013

Cerveja artesanal

Em alta nos EUA, cerveja artesanal vira negócio para europeus
Aquisições ajudam empresários a pegar carona num mercado em expansão

The New York Times | 25/10/2013 06:00:00

Adquirir a Boulevard dará a Duvel a posse de uma cervejaria artesanal grande dos EUA que é bem conhecida no Meio-Oeste e produz uma variedade ampla de cervejas com o seu próprio nome e com outros.

As marcas da Boulevard variam da Cerveja Lupulada de Trigo 80 Acres, descrita como cítrica com um sabor levemente doce e levemente amarga, à Dark Truth Stout, uma cerveja "escura" com nuances de chocolate, café e frutas.

"Vejo aqui na Europa que os consumidores estão se interessando cada vez mais nas cervejas artesanais americanas", diz Michel Moortgat, um dos três irmãos proprietários da Duvel. "No futuro, com essa parceria, poderemos desenvolver mais substancialmente o gosto por essas cervejas aqui e em outros países como o Japão e a China".

Resultado com aquisições

A Boulevard, a 12ª maior cervejaria artesanal dos Estados Unidos, tem uma distribuição que se aproxima a 180 mil barris este ano. A aquisição lhe dará acesso a uma distribuição mais ampla no mercado doméstico e uma abertura nos mercados internacionais usando o sistema mundial da Duvel.

Enquanto grandes marcas de cervejas como a Budweiser e a Coors têm lutado com vendas estagnadas, as cervejas artesanais ficaram cada vez mais populares. Novas cervejarias foram inauguradas no ano passado ao ritmo de uma por dia. Existem uns 2.600 fabricantes de cervejas artesanais nos Estados Unidos, e o volume das vendas de suas cervejas cresceu 11% em 2011 e 14% em 2012, segundo a empresa de pesquisa de mercado Technomic, atingindo quase 13 milhões de barris.

A Technomic tem expectativa de crescimento semelhante este ano e coloca a participação da cerveja artesanal no total do mercado de cervejas em 6,3%. Donna Hood Crecca, diretora sênior do grupo de recursos de bebidas para adultos na Technomic, afirma que o crescimento da cerveja artesanal de hoje era diferente da moda da microcervejaria no começo dos anos 1990, que esfriou com exceção de algumas cervejarias como a Boston Beer Co., fabricante da Samuel Adams, e a Brooklyn Brewery.

"O paladar do consumidor evoluiu e está mais interessando nas nuances de sabor e nas complexidades inerentes aos estilos das cervejas artesanais", explica Donna Crecca. "Além disso, há o interesse geral nos produtos alimentícios e bebidas locais fabricados artesanalmente, e as cervejas artesanais são bem apropriadas para a tendência, geralmente com uma história interessante ou excepcional e um sentido de autenticidade".

Novos sabores
 
O consumo das cervejas artesanais está crescendo rapidamente entre os consumidores hispânicos, cujos paladares favorecem os tipos de sabores com especiarias e frutas que são características das cervejas artesanais. As mulheres, que há muito preferem vinho à cerveja, também aderiram à onda, formando grupos de consumo de cerveja com nomes como Crafty Ladies em Denver e Barley's Angels, que tem unidades pelos Estados Unidos.

"Sempre que você entra em um local de degustação ou em algum bar com mais de dez chopeiras, 30% a 40% dos fregueses são mulheres", afirma Carol Dekkers, que abriu a segunda unidade do Barley's Angels em Tampa, Flórida. "Beber cerveja artesanal é como ser introduzido à fina comida italiana de verdade quando você só comia pizza do Pizza Hut".

Interesse crescente

As redes de restaurantes como a Cheesecake Factory e a Ruby Tuesday estão instalando chopeiras em seus bares, e os donos de mercearias estão criando espaço para cervejas artesanais em suas vitrines refrigeradas. "Uma cerveja lager clara americana não mais satisfaz todos os amantes de cerveja", diz Julia Herz, diretora do programa da cerveja artesanal da Associação dos Fabricantes de Cerveja, o grupo comercial da indústria da cerveja artesanal. "As vendas de cerveja clara caíram, e a maioria das dez marcas principais está perdendo participação no mercado".

Isso não quer dizer que empresas como Anheuser Busch, Molson Coors e SABMiller estão fora da disputa. A Tenth and Blake Beer Co., controlada por um empreendimento conjunto entre a Molson Coors e a SABMiller, fabrica a Blue Moon e a Leinenkugel's, e a Cervejaria Goose Island em Chicago foi comprada em 2011 pela Anheuser Busch, que pertence a gigante InBev. Porém, os nomes das maiores cervejarias não constam nos sites dessas empresas ou nas garrafas das cervejas que elas fabricam, o que tem sido uma fonte de controvérsia no mundo das cervejas artesanais.

Cerveja artesanal: pequena e independente

A Associação dos Fabricantes de Cerveja, que apelou para que os gigantes da cerveja coloquem o nome nas garrafas das cervejas artesanais, define a cerveja artesanal como "pequena, independente e tradicional". Isso significa, explica Julia Herz, que uma cervejaria produzindo 6 milhões ou menos de barris por ano – um limite menor foi descartado quando a cerveja Samuel Adams o excedeu – e pode incluir a posse parcial de menos de 25% por uma empresa de bebidas alcoólicas que não seja fabricante de cerveja artesanal.

Se uma cervejaria não entrar na classificação do grupo comercial, ela não pode fazer parte da associação com direito a voto. "Por tradicional, queremos dizer todas maltadas, usando suplementos como o milho e o arroz apenas para realçar o sabor, não para clareá-la, que é como a maioria dos fabricantes de cerveja caseiros utiliza esses grãos", explica Julia.

Embora a Duvel seja a segunda maior fabricante de cerveja da Bélgica atrás da InBev, Julia diz que a aquisição da Cervejaria Ommegang, fabricante de uma cerveja artesanal em Cooperstown, Nova York, não tinha custado a Ommegang o status de artesanal pelas regras da associação. Moortgat, sócio da Duvel, conta que estava um tanto preocupado com o fato de que a Boulevard não seria considerada uma cervejaria artesanal pelos membros da associação por causa do seu novo proprietário. "Porém, primeiro deixe-me dizer que, se olharmos os barris vendidos, a InBev vende 500 vezes o número de barris que vendemos", afirma.

Produção em alta

A Duvel e suas outras cervejarias europeias, que incluem a La Chouffe e a De Koninck, venderão aproximadamente 700 mil barris este ano, explica Moortgat, enquanto a Ommegang venderá cerca de 45 mil. Moortgat, sócio da Duvel, afirma que as vendas estavam a caminho de atingir cerca de € 200 milhões (US$ 270 milhões) no final deste ano, uma alta partindo de aproximadamente € 180 milhões no final do ano passado quando a empresa mudou para capital fechado, com os lucros aumentando mais ou menos no mesmo ritmo.

"Já fizemos aquisições e sempre realmente nos asseguramos de que respeitamos as particularidades delas, as suas tradições, as suas autenticidades", declara Moortgat. "Em vez de buscar sinergias e eficiências de custos, tentamos desenvolvê-las nos moldes que elas seguiriam se não estivéssemos envolvidos". O empresário conta que a Duvel continuaria a investir nas instalações de produção e nos equipamentos da Boulevard, e que a equipe de vendas da Boulevard comercializaria as cervejas da Duvel em suas regiões enquanto a equipe da Duvel americana venderia as cervejas da Boulevard na costa Oeste e Leste dos Estados Unidos.

"Uma das coisas que temos de entender é que os fabricantes de cerveja artesanal americana são mais criativos, mais ousados do que somos na Europa, e não queremos mudar isso", declara o empresário. Em um sinal da criatividade americana, a Duvel há três anos criou uma cerveja de frutas feita de coisas como morangos, framboesas e bagas de sabugueiro. A empresa queria sugerir que ela fosse servida com gelo para torná-la mais refrescante, relata Moortgat, mas tinha a preocupação de "que toda a indústria gritaria conosco – 'Não se pode colocar cubos de gelo na cerveja'".


A cerveja de frutas da Leifman com gelo acabou sendo um sucesso na Europa, mas e quanto a cerveja Ale de Torta de Creme de Banana com Coco? "Uma das coisas que eu mais gosto sobre a cerveja artesanal é a colaboração que temos com outras cervejarias", diz Carol Dekkers, dona da Barley's Angels. "Como no ano passado, um fabricante da Angry Chair se reuniu com o seu companheiro de quarto, que faz cerveja para a Cigar City, após terem visto uma receita de torta de creme de banana com coco em uma feira de gastronomia e fizeram uma cerveja de torta de creme de banana com coco". "Não gosto de sobremesas", diz a empresária, "mas, nossa, ela estava tão boa".

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