terça-feira, 1 de outubro de 2013

O mercado de cervejas no Brasil



O MERCADO DE CERVEJAS NO BRASIL:
o momento é de observação.

Por Henrique Oliveira

Se eu pudesse deixar uma daquelas frases de efeito normalmente provenientes de pessoas famosas, diria o seguinte: "O mercado é um comportamento humano. É reflexo do que as pessoas desejam em um determinado momento, utilizando a moeda e o escambo como fontes de troca e representação".

O mercado de cervejas no Brasil vem, na ultima década, apresentando aquecimento de produção e consequente consumo. De 2003 a 2012 o salto da produção foi da ordem de 61%, passando de 8,5 bilhões de litros/ano para 13,7 bilhões. A expectativa para 2017, segundo estudos da empresa pesquisadora de mercados Mintel Group, é que a produção atinja a casa dos 15 bi. O primeiro termômetro apontado - fato consumado - é o poder financeiro de compra do brasileiro que evoluiu nesses dez anos face ao incremento da sua renda. A exemplo disso, lembro-me do caseiro do meu sítio e meu amigo de infância, Ronaldo Pinto, que tem o prazer em poder pagar-me uma cerveja, sempre dizendo: " - Deixa que eu pago essa, patrãozinho, pois agora eu posso!". Adicionalmente, a estabilidade cambial, equivalente ao poder de presumir "quanto valerá o dólar no dia seguinte", também foi fator preponderante para o crescimento, uma vez que as oscilações da moeda estrangeira ficaram mais estáveis aprimorando o planejamento econômico-financeiro das empresas produtoras de cervejas. Matérias-primas como malte, lúpulo e levedo e equipamentos em aço inox são normalmente indexados em dólares, o que compete estudos mais apurados de caixa e investimento. Toda estabilidade, nesse caso é deveras bem-vinda. A inflação, após décadas, atrofiou-se atingindo níveis de um dígito.

Outro fator é que novas marcas e empresas do ramo cervejeiro ingressaram no país com o intuito de atuar fortemente no mercado disponível. Logo após assistirmos o movimento Ambev, presenciamos a aquisição da japonesa Kirin sobre a Schincariol e da holandesa Heineken sobre a Fomento Mexicano S/A – FEMSA do Brasil, ora dona da marca Kaiser. O aumento estrutural do segmento foi também acompanhado pela inserção aproximada de 200 microcervejarias ao longo do mesmo período. O consumidor pôde observar uma diversificação do mix de consumo e de produtos com estilos variados de cervejas e em diferentes embalagens (despertando a curiosidade gastronômica) assim como observou uma diversificação da distribuição, algo aparentemente “novo” no mercado cervejeiro, oferecendo mais meios de acesso a gama de produtos.

Renovou-se o marketing, surgiram as vendas de cerveja on-line, clubes de assinatura de cervejas, associações e confrarias cervejeiras, homebrewers ou cervejeiros caseiros, cursos profissionalizantes em geral, lojas especializadas, novos eventos nacionais de cervejas, além de bares e restaurantes focados em cervejas premium e cardápio gourmet. Livros sobre cerveja e seus derivados citam práticas de harmonização, fabricação, turismo, entre outros, e estão à tona para dar mais informação ao consumidor.  O que se conclui é que toda cadeia produtiva do segmento cervejeiro está trabalhando bastante, em um curto espaço de tempo, para preservar valor e manter o ritmo de crescimento.

Não obstante, o governo participou do processo. Majorou os impostos, compensou parte dos incentivos fiscais de outros setores no segmento de bebidas, e informatizou o sistema de recolhimento fiscal, com direito a antecipação do tributo logo após o seu envase – a chamada Substituição Tributária (ST).

QUEDA NAS VENDAS  EM 2013

Muito se comenta sobre a queda de consumo no mercado de cervejas no cenário atual. O que se observa nesse final do terceiro trimestre de 2013 é um pedido de folego por parte do consumidor final para com o seu poder de compra que viu os preços subirem para níveis menos confortáveis de pagamento, num âmbito geral. A corda no pescoço apertou ainda mais para o setor cervejeiro, com a mudança de comportamento desse cidadão; as leis Seca e do Silêncio reduziram a frequência  do “consumo de celebração”, migrando esse gradativamente para o “consumo de relaxamento”. Explico melhor: antes tomava-se cerveja no bar celebrando com os amigos mais vezes por semana, e agora se toma cerveja em casa, relaxando sozinho e por conta própria. A celebração, sem sombra de dúvidas consome mais tempo, bebida e dinheiro. Já em casa, o consumo atinge patamares mais moderados, a preços módicos...e com mais segurança, tendo em vista os arrastões ocorridos em bares e restaurantes destacando  as grandes metrópoles como São Paulo, com mais de 35 casos nos últimos 6 meses.
Por fim, o câmbio não está mais estável como antes, afetando os preços das commodities que envolvem a cerveja e deixando os produtores menos assertivos quanto ao planejamento futuro. A inflação, acumulada com base no índice IPCA que ronda os 6,3 pontos percentuais nos últimos 12 meses também fez parte desse estresse e essa surge nas “pequenas coisas” que majoram os outros índices oficiais e pioram a percepção e o comportamento do consumidor. Alimentos e bebidas acumulam um aumento na casa dos 24,6%, segundo dados relacionados ao índice.

Por mais que esses desvios sejam pontuais, os fatos não ferem como um todo, o desempenho do segmento. O momento atual é marcado pela sazonalidade (o inverno foi mais rigoroso atingindo inclusive regiões tradicionais de clima quente), eventos esportivos como a Copa das Confederações reduziram os impactos em contra-partida, ou seja; o timming é muito curto e as variáveis são muitas e complexas para se ter um diagnóstico efetivo da situação. Não obstante, tendo em vista que o mercado de cervejas é um dos mais importantes do país, qualquer movimentação adversa sempre cabe atenção e cautela. Vamos ver o comportamento humano nos próximos meses, pois nas circunstâncias, o melhor é observar para melhor planejar. Ainda não há água no chope, mas talvez ele esteja esquentando.

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