Mundo descobre a cachaça. Desafio é levar pequenos
produtores a bares e hotéis
Exportações avançam e refletem interesse maior pela bebida,
que pode dar um salto maior com campanhas de promoção e presença global,
segundo a empresária Raquel Lopes, da Casa Cachaça, que vende cerca de 30
marcas do país no exterior
Texto base de Daniel Buarque da Bloomberg Línea
O New York Times destacou: “O Brasil tem uma cachaça para
cada estação do ano”, em uma reportagem publicada em dezembro, apresentando uma
lista de drinks preparados com destilados brasileiros. Esse reconhecimento
internacional em um dos jornais mais prestigiados do mundo reforça uma
percepção que muitos na indústria já tinham desde o início da década: a cachaça
vive um ponto de inflexão no mercado global.
“A cachaça entrou em uma fase de descoberta no mundo”,
afirma a empresária Raquel Lopes, radicada em Portugal e conhecida como uma
embaixadora informal da bebida. À frente da Casa da Cachaça, braço da
importadora BR Select, ela representa cerca de 30 marcas brasileiras de
pequenos alambiques familiares, incluindo rótulos premiados. Raquel atua na
articulação de negócios, festivais e degustações que garantem espaço para a
cachaça nas cartas de bares e restaurantes europeus.
Os dados oficiais confirmam essa tendência. Depois de anos
de exportações modestas, a bebida começou a ganhar presença no exterior. Em
2021, as vendas para outros países cresceram 38%. Em 2022, último dado
disponível, chegaram a US$ 20 milhões, um aumento de 53% em relação a 2021. Em
volume, o crescimento foi de 29,3%, totalizando 9,3 milhões de litros, segundo
estudo da ApexBrasil, que promove produtos e serviços brasileiros no exterior.
Embora esses números ainda sejam pequenos quando comparados à tequila — bebida
latino-americana que conquistou projeção global —, eles revelam um avanço
consistente.
“O momento é agora. Se fizermos o trabalho bem feito, vamos
alcançar o patamar da tequila e colocar a cachaça em qualquer prateleira de bar ou hotel sofisticado no mundo”, afirma Lopes. O crescimento, porém, não elimina
barreiras estruturais: a cachaça continua classificada no código tarifário
internacional como rum, o que reforça a confusão enfrentada pela empresária em
suas apresentações mundo afora. “O maior desafio é explicar que cachaça não é
rum. Muita gente pergunta: ‘É rum?’ Eu respondo com orgulho: ‘Não, é cachaça’.
Ela é uma das bebidas mais antigas das Américas”, diz.
Raquel também insiste na importância de mostrar a amplitude técnica da bebida, pouco conhecida fora do Brasil. “A cachaça nasce virgem,
como a cachaça prata, mas pode ser envelhecida em mais de 40 tipos de madeira.
Isso surpreende as pessoas, porque elas não têm ideia desse repertório”,
explica. Essa diversidade é decisiva para desassociar a imagem da cachaça da
caipirinha — drink que abriu portas, mas também limitou a percepção da
categoria. “A caipirinha é fantástica, mas precisamos mostrar que a cachaça é
muito mais versátil”, conclui.
Fonte e saiba mais em: Mundo descobre a cachaça. Desafio é levar pequenos produtores a bares e hotéis
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