SPACE
A
última casa noturna da Savassi, da década de 90
por Henrique Oliveira
Por volta dos meus 16 anos frequentava a boate SPACE, que
ficava na rua Pernambuco (acho que era número 1317), na praça da Savassi. O seu
proprietário era Gustavo Martini, com quem tive o prazer de dividir por um
tempo a mesma sala do curso de Ciências Contábeis na PUC/MG. Seu pai, o velho
Martini, era o proprietário da Casa do Whisky, famosa loja de bebidas que
ficava na Avenida do Contorno esquina com Nossa Senhora do Carmo. Anos mais
tarde, aquele ponto se transformou parte do que é o Shopping Pátio Savassi.
Gustavo, salvo engano, já havia empreendido em outras casas
noturnas (acredito que foi a Tom Marron e a New Balance). A Space foi uma casa
diferente, pois ele a projetou de forma especial para atender as demandas do Dj
Alberto Jacomini, que era, além do DJ da casa, um amigo pessoal de Gustavo que
de vez em quando jogavam um futebol juntos (diga-se de passagem diziam que
Alberto era muito bom de bola).
A casa tinha entrada simples, com uma porta dupla de metal
rolante, imagino na cor branco gelo. Logo na parte interna havia uma
bilheteria. Quem fosse com a camisa da Space na Matinê (era uma camisa branca
de manga curta e de gola alta, escrito “SPACE” em rosa fluorescente e contorno
em azul com um cometa, logo abaixo do escrito) pagava meia entrada ou ganhava
entrada “free” até as 16:00 horas.
Ao entrar na boate havia um sobre salto antes da pista de
dança com banquinhos e mesas baixas. A
pista era quadriculada como um tabuleiro de xadrez em preto e branco. Os sofás
da pista eram confortáveis mas ocos por dentro, pois ali ficavam os sub woofers
de 16 polegadas que explodiam os graves sem danificar a qualidade do som. (A
casa tinha boa acústica).
A cabine, na cor verde, foi desenhada exclusivamente para o
DJ Alberto. Ali tocava as melhores músicas dos anos 90, no mais puro vinil (nada de “Final Scratch” ou “CDJ’s”)! A primeira vinheta de abertura da casa foi
bem triunfal https://www.youtube.com/watch?v=8Myi7t7wXLE,
e a segunda vinheta foi elaborada com um megamix dos dj’s espanhóis "MAX MIX". Ambas
foram produzidas pelo Emílio Surita (apresentador do Pânico) que na época
possuía uma empresa de jingles. Ambas aberturas eram simplesmente fantásticas e contagiantes.
A estrutura da cabine era baixa e quem quisesse apreciar as
Technics MK2 e o mix Numark com leds em arco era só ficar ao lado dessa, pois
havia apenas uma pequena faixa em vidro blindex que separava os equipamentos do
público dançante.
Havia no centro uma meia bola fixa com vários furos que se
movia num movimento "sobe-desce" por um elevador pantográfico, cuja luz branca
interna era refletida por espelhos. Havia também quatro caixas quadradas com
pin bins rosas com pontas em formato de pirâmide viradas de cabeça para baixo.
Havia inúmeros estrobinhos que davam a sensação de estrelas piscando de forma aleatória, num céu bem escuro. Havia também diversos
quadrados no teto, desenhados por tubos de luz neon, que piscavam de forma
alternada conforme a cor e o batido da música. Duas bolas malucas, em par 36
ficavam em posições opostas. Outras iluminações como castanholas e bailarinas também
compunham aquele cenário.
Um telão em cima da cabine passava vídeo clips. Por meio de
um computador, DJ Alberto executava sorteios através de um sistema aleatório de
premiação. Eram sorteados cortesias e, sobretudo, camisetas da casa. Havia um
mezanino com camarote, mas esse era pequeno.
DJ Alberto se tornou famoso em BH. Ele era um profissional
muito sério e compenetrado em seu trabalho. Normalmente ele mixava segurando um
dos lados do fone de ouvido e virava as músicas de forma muito criativa. O seu
repertório era contagiante. Essas qualidades fazia com que multidões o
seguissem por onde tocava. Teve um tempo que a rádio Extra FM 103,9 da Rede
Itatiaia produzia o programa dele chamado “Meio Dia & Dance”, de 12:00hs às
13:00hs, que batia a concorrência. (Os mais velhos de pista como eu, acompanham
hoje o “Planeta DJ” da Jovem Pan, somente depois que o “Meio Dia & Dance”
saiu do ar). As vinhetas desse programa também foram produzidas pelo Emílio
Surita e elas eram top de linha.
A boate Space foi charmosa e de certa forma intimista, pois
se tratava de um espaço pequeno. Essa casa, assim como a Hippodromo, também
deixou saudades. Gustavo fechou a Space de coração partido. Ele adorava o
ambiente, clientes e funcionários; e nós também. Apesar do lado bom da coisa, o som
da Space que tanto nos alegrava, incomodava os vizinhos. A Savassi, apesar do
seu charme gastronômico e comercial, possui também a sua parte residencial, que precisa ter o seu silêncio e descanso preservados.
Mas antes de encerrar suas atividades, Gustavo Martini, em
1993 deixou o seu legado, por meio da impressão de 3 discos de vinil, sendo um deles com o nome
“Space: Explicit Rave”. Esse vinil eu tenho um exemplar comigo até os dias de hoje e o guardo
com muito carinho. Atualmente, Gustavo e sua família estão à frente da “Casa do
Vinho”, uma loja especializada em vinhos, espumantes e outras bebidas
espirituosas, na avenida Cristóvão Colombo, bem no coração da Savassi.
Ao Gustavo Martini e ao DJ Alberto Jacomini, segue o meu
fraterno abraço.
Quem quiser conhecer um pouco mais sobre a Space veja o
vídeo.
Meio-Dia & Dance (com direito a vinheta e tudo mais).
Repertório do primeiro disco da Space – Explicit Rave.
A1 - Culture
Beat - Mr. Vain
A2 – East Side
Poetics – Bang 'Em (Miday Mix)
A3 - J.K. -
You Make Me Feel Good (Disco Mix)
A4 -
Cartouche – Shame (Extended Mix)
B1 - Space
Mix – Dj Alberto
B2 - DJ
BoBo – Somebody Dance With Me.
B3 - Magic Marmelade – America
B4 - Expose – Tell Me Why (Esse Remix é Maravilhoso.Ficou
marcado na casa.)
Primeira
Abertura: que tem como base os dizeres do lançamento da Apollo 11
10,9,8,7,6,5,4,3,2,1
/ Space/The fire/Ignition/Mister Dj/Space, Space!
We sure
that are hot/number of more music/Computer lights/Space!
Let's some
show/Music non-stop (3x)/Space(2x)!/ Focus/Music/Power/New York/Communication
10, 9, inginition sequence start 6,5,4,3,2,1, Zero/All engines running
A partir de agora o melhor som do planeta! Space!
Henrique Oliveira é
escritor especializado em cervejarias, governança, riscos e compliance.
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