– Alô, aqui quem fala é o Dado Bier, gostaria de falar com o fulano.
– Ok. Quem da Dado Bier que vai falar?
– Não, sou eu mesmo: o Dado.
Foram diálogos como este que fizeram Eduardo Bier de Araújo Corrêaperceber que a marca havia se tornado maior do que seu apelido de família. Atualmente, o empresário, idealizador da rede de restaurantes Dado Bier e da casa noturna de mesma marca que fez história na noite porto-alegrense, já não estranha – tanto – quando está em uma roda de amigos e reconhece alguém segurando uma garrafa com seu nome no rótulo.
Em março, a empresa completou 20 anos de história e já soma seis restaurantes e 10 rótulos de cerveja e atende cerca de 60 mil pessoas por mês. O rosto da foto comprova: Eduardo começou o negócio jovem, aos 29 anos, impulsionado por um desafio do tio Jorge Gerdau Johannpeter, que brincava que ele tinha “sobrenome bom” e deveria aproveitar o gancho. E não só Johannpeter anteviu a oportunidade: até hoje, nas viagens frequentes para a Alemanha, Dado é abordado por pessoas que comentam a sorte de ele ter as quatro letras combinadas na identidade.
– Se calcularmos a quantidade de pessoas que recebemos nos restaurantes e as cervejas que vendemos por mês, percebemos que o impacto da marca é muito maior do que eu. Fico pequeninho – brinca, falando que não consegue usar mais o nome nem nas redes sociais.
Um dos precursores na fabricação de cervejas artesanais e um dos responsáveis por popularizar o sushi em Porto Alegre, Dado sente ao analisar que o país e o Estado andaram para trás nas duas décadas em que esteve no mercado:
– É meio duro. A gente vê que existiu um período de prosperidade entre esses 20 anos, mas sem consistência, tanto é que se fragilizou e estamos vivendo um tempo em que não se sabe quando as coisas vão se reorganizar. Estou contextualizando para dizer que, mesmo dentro deste cenário, conseguimos fazer a empresa crescer, pois trabalhamos com verdades. As pessoas estão saturadas de mentiras.
Para Dado, a receita do sucesso é a insatisfação, a obsessão pela qualidade e a capacidade de admitir falhas. Quando a empresa nasceu, o jovem chamava o primeiro gerente e repetia: “A gente sempre vai errar. Mas vai trabalhar para errar o mínimo possível. Todo nosso trabalho vai ser pautado na verdade”. Aponta ainda o valor de ter paciência e cautela e dar um passo atrás do outro:
– A gente não dá um boom no mercado e sai abrindo 10 restaurantes ou multiplicando a produção de cerveja por três ou quatro. A todo ano, damos um passo, e este crescimento, que às vezes é mais lento do que a gente gostaria, é o que nos mantém consistentes.
Fazendo uma retrospectiva, Dado lembra da história de 13 anos da casa noturna Dado Tambor e acredita que saiu da “noite” no momento certo. Para os saudosos, não descarta a possibilidade de voltar com um projeto semelhante que reúna culinária, cerveja e música ao vivo. E comenta o quanto gostaria que tivesse dado certo o projeto do restaurante no DC Shopping, que não funcionou comercialmente e acabou fechando. Na empolgação, adianta em primeira mão para a coluna seu próximo plano:
– Idealizo uma fábrica de cerveja de pequeno, médio porte, muito conceitual, com um super-restaurante e espaço para eventos. Tenho até o local, só não posso contar muito mais.
E reforça que não abandonou a ideia de instalar a marca na orla do Guaíba:
– Não desisto do que acredito. Seguimos com o projeto Pier Dado Bier. Acho que a ligação de Porto Alegre com o Guaíba é importante, e precisa ter um link com os moradores. Nós vamos ter um prefeito ou governador que vai desencantar esta situação. Aliás, depois do Papa Francisco, estou acreditando em muita coisa.
Fotos: Andréa Graiz/Agência RBS
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