quarta-feira, 15 de julho de 2015

Birra Núrsia

Cerveja e canto gregoriano: como os monges beneditinos transmitem sua mensagem ao mundo laico




Por Matthew Becklo
Nas montanhas da Úmbria, no coração da Itália, onde São Bento nasceu, um grupo de jovens monges beneditinos (sua média de idade é de 33 anos) tem feito nome com a cerveja Birra Núrsia. "A ideia original era ajudar nas despesas", explica o pe. Cassian Folsom, prior do mosteiro de Núrsia. "Mas foi muito mais do que isso, porque a cerveja, e a boa cerveja em especial, é uma ponte entre os monges e o resto do mundo".

Agora, os monges estão chegando ao “resto do mundo” com outro amor universal que merece degustação: a música.

O pequeno selo De Montfort Music, especializado em canto e polifonia sacra "que representam o verdadeiro e o belo", atingiu grande sucesso de crítica em 2013 ao emplacar dois álbuns das beneditinas de Maria Rainha dos Apóstolos no topo na lista Música Tradicional Clássica, da Billboard. As beneditinas se tornaram a primeira ordem feminina da história da Billboard a levar um prêmio (Artista Clássico Tradicional do Ano, em 2012 e em 2013).

Depois deste feito, o selo De Montfort se uniu aos monges de Núrsia para lançar “Benedicta: Canto Mariano de Núrsia”, um álbum com hinos e cantos gravados no próprio mosteiro de Núrsia e que está há quatro semanas no topo da mesma lista da Billboard.

"O canto faz parte do ar que respiramos", explica o pe. Folsom, "e, como nós cantamos tantas vezes, ele se torna muito natural depois de alguns anos. A música é importante para nós, especialmente como oração. Mas mesmo quem a ouve sem qualquer conhecimento de fundo ficará atraído, penso eu, pela sua beleza pura e pela sua qualidade mística. Esta música vem sendo cantada ao longo de séculos e séculos. Além disso, os textos poéticos têm uma riqueza extraordinária. A combinação das melodias e do texto produz um resultado extraordinário".

Excetuando “Bells from the Basilica” (“Sinos da Basílica”), que abre o álbum, “Benedicta” é todo em latim. Frases como “Ave Maria” e “Salve Regina” serão familiares para muitos, mas a força do álbum está na própria experiência de ouvi-lo. As orações a Maria fazem parte da vida dos monges e a sua naturalidade permite que a beleza rítmica do próprio canto conduza o ouvinte para o mar aberto da mística. As vozes dos outros se espalham como a fumaça do incenso, unindo cada faixa à seguinte numa oferta límpida e sincero a Deus. Os monges beneditinos se comprometem com a “conversatio morum suorum”, a conversão da alma ao longo da vida, e este é o convite que o seu canto estende ao ouvinte.

São Bento de Núrsia, o homem em cujo local de nascimento os monges trabalham e cantam orando, continua a ser inspiração não só para os beneditinos, mas também para os leigos. Cristãos de todos os lugares discutem a "opção beneditina" de formar comunidades cristãs que espelhem as palavras proféticas de Bento XVI sobre uma Igreja encolhida em número, mas revitalizada em autenticidade. E o modelo de oração, paz, música e trabalho da comunidade de Núrsia é mais do que uma opção oportuna: é uma opção atemporal.

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