Cerveja ou leite?
Estudo propõe refletir sobre bebidas de consumo humano
considerando a emissão de gases de efeito estufa em sua produção e o valor
nutricional de cada uma delas
Por Luiz Josahkian* para a Globo Rural
29/01/2025
O ano de 2023 foi um recorde, mas não para ser comemorado.
Foi o ano mais quente nos 174 anos de história do planeta em que as
temperaturas têm sido aferidas. Dados da Organização Meteorológica Mundial
indicam 1,4 °C acima da média histórica,
muito próxima de 1,5 °C, o ponto limite em que não haverá mais retorno para evitar os efeitos do aquecimento global.
Se isso não for motivo para não comemorar o recorde, o ano
de 2024 é um forte candidato para desbancar o breve reinado de 2023. Atingir
essa marca, contudo, não é irremediável, mas liga o alerta dos organismos
internacionais d vigilância do clima e traz a baila o fraco discurso da COP28,
realizada em Dubai, cujo ponto central foi a transição do uso dos combustíveis
fósseis para fontes de energia limpa.
Embora o acordo final, assinado por quase 200 países, seja
emblemático sob o ponto de vista do reconhecimento dessa necessidade, não houve
compromissos quantificáveis e com prazos a serem cumpridos, uma lacuna do
acordo criticada por muitos. Mas sabemos que será um longo processo, uma
reconfiguração da economia mundial, uma remodelação dos negócios e na forma
como a sociedade fará suas escolhas de consumo. Esse Novo Mundo estabelecerá
paradigmas diferentes, inaceitáveis nos padrões atuais. Falar sobre eles agora
seria quase irônico, mas as transformações em escala global instituíram
parâmetros de decisão queiram nos tirar da zona de conforto.
Só como exemplo, e lembrando do que podemos optar para
deixar de fazer quase tudo, menos o de nos alimentar, vejamos a questão da
produção de alimentos sobre a perspectiva proposta por SMED-MAN et al. (Disponível
em HTTPS://doi.org/10.3402/fnr.v54i0.5170) em um artigo intitulado “Nutriet
Density of Beverages e Relation to Climate Impact”. Os autores nos propõe
refletir sobre a produção de algumas bebidas de consumo humano sobre um ponto
de vista relativo entre o total de emissão de gases de efeito estufa (GEE) em
toda a sua cadeia de produção e o valor nutricional de cada uma delas. Em
outras palavras, é uma forma de avaliar o custo-benefício do ponto de vista
humano no impacto climático.
Para tanto, criar um índice em que a densidade nutricional
de cada produto (levando em conta 21 nutrientes essenciais) era comparado com a
taxa de emissão de GEE medido em toda a sua cadeia de produção (produção,
manufatura, embalagem e distribuição.) Denominaram esse indicador de NDCI (Nutriet
Density to Climate Impact.) Foram avaliados leite, refrigerante, suco de laranja, cerveja, vinho tinto, água mineral, bebida de soja e bebida de aveia. Infelizmente,
para os apreciadores, refrigerante, vinho e cerveja apresentar os piores
índices, porque, além das maiores taxas de emissão de GEE, seus valores
nutricionais se aproximam de zero.
O suco de laranja e bebidas de soja foram equivalentes em
uma zona intermediária, como a ligeira vantagem do ponto de vista nutricional
para o suco de laranja. O leite, por sua vez, apresentou o melhor NDCI, praticamente
o dobro da bebida de soja e 53 vezes superior ao da cerveja e do vinho. Então, que
opções faremos no futuro: cerveja ou leite?
Luiz Josahkain é Zootecnicista, professor de melhoramento
genético e superintendente técnico da Associação Brasileira dos Criadores de
Zebu (ABCZ).
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