Antigo império peruano mantinha paz com festa e cerveja
Redação Revista Planeta
As cervejas
artesanais estão na moda, mas essa bebida é um elemento muito antigo nas
sociedades. E ajudou a pavimentar a paz entre os povos.
Há mil anos, o império Wari dominou o Peru. Os Wari governaram por cerca
de 500 anos, de 600 a 1100 dC, ocupando um enorme trecho de terra norte-sul que
abrangia mais da metade da costa oeste daquele continente antes de os incas
tomarem o país.
Uma equipe de pesquisadores americanos se perguntou como essa sociedade
pode florescer por tanto tempo. Os cientistas identificaram então um fator
importante: os elementos relacionados ao trabalho de produzir e apreciar
cerveja.
De acordo com a pesquisa, a oferta constante de cerveja poderia ter
ajudado a manter a sociedade Wari estável. O império Wari era enorme e
constituído por diferentes grupos de pessoas de todo o Peru.
Há quase vinte anos, pesquisadores do Field Museum, de Chicago, descobriram
uma antiga cervejaria Wari em Cerro Baúl, nas montanhas do sul do Peru. Eles
descobriram que cerveja que os Wari fabricavam, uma bebida leve e azeda chamada
chicha, só ficava boa durante uma semana, então pessoas de fora tinham que ir a
festivais no Cerro Baúl para beber.
Esses festivais eram importantes para a sociedade Wari, já que as elites
políticas locais compareceriam nos eventos. Eles beberiam chicha de vasos de
cerâmica de três metros de altura decorados para parecerem com deuses e líderes
Wari.
Para aprender mais sobre a cerveja que desempenhou um papel tão
importante na sociedade Wari, a equipe analisou pedaços de recipientes de
cerveja de cerâmica do Cerro Baúl. Eles usaram várias técnicas para dizer quais
elementos atômicos compõem a amostra e quantos. Esses processos oferecem pistas
de onde vinha a argila e de quais moléculas a cerveja era feita.
Para a análise da cerâmica da cervejaria, uma das pesquisadoras usou a
técnica conhecida por DART: “direct analysis in real time”, ou “análise direta
em tempo real”, uma técnica que fornece resultados rapidamente. Ela retirou um
pouco do pó dos fragmentos e introduziu-o em um instrumento, que traduz o
material em uma espécie de impressão digital molecular.
Os autores observam que as implicações do estudo sobre como identidade
compartilhada e práticas culturais ajudam a estabilizar as sociedades são cada
vez mais relevantes hoje.
“Essa pesquisa é importante porque nos ajuda a entender como as
instituições criam os vínculos que unem as pessoas de grupos muito
diversificados e formações muito diferentes”, diz Ryan Williams, do Field
Museum. “Sem eles, grandes entidades políticas começam a se fragmentar e se
dividir em coisas muito menores. O Brexit é um exemplo dessa fragmentação na
União Européia hoje. Precisamos entender as construções sociais que sustentam
essas características unificadoras se quisermos ser capazes de manter a unidade
política na sociedade”, diz.
O estudo foi realizado por Ruth Ann Armitage, da Universidade Eastern
Michigan, Ryan Williams, do Field Museum de Chicago, Donna Nash, do Field
Museum e da Universidade Greensboro da Carolina do Norte e Josh Henkin, do
Field Museum e da Universidade de Illinois, em Chicago, e foi publicado em 18
de abril no periódico científico “Jornal Sustentabilidade”.
Fonte: Redação Revista Planeta https://www.revistaplaneta.com.br/antigo-imperio-peruano-mantinha-paz-com-cerveja/
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