Nǐ hǎo. Não ignore a China, pois essa
está mais próxima do que se imagina
Os recentes conflitos geopolíticos com a China para com
outros países do mundo, a destacar os Estados Unidos, vêm apontando relevantes
divergências sobretudo de ordem trabalhista. Os baixos salários, as condições de
trabalho análogas à escravidão (Modern Slavery) que envolvem longas
jornadas de trabalho; ausência de descanso entre jornadas ou nos fins de semana,
a saúde e a segurança do trabalhador (e.g.: ausência de EPIs) improvisada, bem
como subsídios infundados fazem parte de uma série de itens que vem sendo questionados
globalmente e que impactam na formação do preço dos produtos chineses, tornado
a concorrência desleal. Esse cenário vem sendo amplamente divulgado e é conhecido
no mundo empresarial. Mas, será que isso ocorre em toda China?
A China é milenar. É um país extenso, continental e distante
da nossa América do Sul. O Oceano Pacífico acentua esse cenário, pois há pouca
terra entre os dois continentes. Essa distância geográfica nos afasta daquela
cultura oriental, faz perder o interesse em saber sobre aquele velho mundo, o
que nos gera preconceitos, medo e incertezas. Alguns diriam que a China é
misteriosa, ou ainda algo ameaçador. “Não sabemos quem são, mas fazemos negócios
com eles”. Mas eis a questão: será que os chineses realmente são esse estereótipo?
Ou somos nós, ignorantes, que não os conhecemos o suficiente, para criarmos tamanho preconceito?
Durante, aproximadamente, duas semanas, estive com um grupo
de profissionais e empresários na China em uma expedição comercial e
institucional. Visitamos diversas cidades como Shanghai, Shaoxing, Xinxiang, Zhengzhou
e Xi’an para conhecemos o lado comercial e industrial chinês. Ao longo da caminhada,
observei uma China moderna e pujante. Não entrando no viés político daquele país,
o que se nota é uma nação focada no trabalho, com vontade de fazer bons
negócios e gerar riqueza. Fazer dinheiro. Para tanto, o governo tem implantado
uma estrutura logística interna sem precedentes. O trem bala é mais que uma
realidade. (Imagina viajar de Belo Horizonte a São Paulo em apenas 3 horas?). Gruas
traçam novas rotas para pontes e estradas com várias vias de acesso. Os portos são
modernos e visam agilizar os movimentos de exportação e importação com eficácia.
A mobilidade elétrica, rica em veículos, ônibus e motos, é amplamente incentivada,
com uma única taxa, cobrada na aquisição do bem. O seu uso tem diminuído radicalmente a
poluição sonora e a do ar. (Nada de IPVAs e licenciamentos todo ano, como
conhecemos.) Os chineses têm sido ágeis, trabalham focados e muitos apresentam
visão de longo prazo. Os meios de pagamento são ágeis e fáceis para tornar o
processo mais eficiente. A lei é severa para a delinquência e a marginalidade.
Tráfico de drogas e apologia ao crime? Nem pensar. A segurança pública é
impressionante. A sensação de tranquilidade acalma as tensões dos cidadãos de bem.
Em termos de ensino, a criança nasce sabendo que a concorrência
é grande. Enquanto um brasileiro jovem concorre com alguns milhões de
habitantes para se ter sucesso no futuro no Brasil, lá a concorrência é da casa
da centena de milhão. Ou seja, o cidadão tem que estudar ou tem que estudar. 6570
dias: esse é o tempo que a criança, guarda em sua memória para estar pronto
para o vestibular deles, mais conhecido por Gaokao. Desde cedo, as crianças
chinesas são instigadas a buscar o melhor mérito, com estudo e dedicação. Como
resultado, a China é o país que mais forma engenheiros no mundo. Eu me
pergunto: como estamos no quesito ensino em nosso país?
Ao citar temas como educação, infraestrutura interna e visão
de longo prazo, digo que fiquei atônito com os chineses, o que me faz pensar o
quanto estamos precisamos nos movimentar, em termos de cultura, competência
profissional e performance geral.
Atualmente, nosso país vem assistindo uma novela das nove,
com uma política carregada de pautas que não agregam valor e que não traz uma
visão de futuro, essa carente de demandas concretas. O Brasil tem perdido seu tempo
discutindo pautas intermináveis que, em sua maioria, já estão suportadas por lei.
A insegurança jurídica, a tributação interna, com viés arrecadatório, está
voltada para a manutenção de um gasto público sem limites, com pouco investimento
no que interessa para nos tornarmos uma nação mais competitiva globalmente. Trata-se
de uma pesada e complexa análise de risco.
De fato, nem tudo são flores na China. Há subemprego, pobreza,
autoritarismo, informação limitada e outros desvios. Entretanto, temos ciência
que temos também as nossas informalidades, mazelas e outros entraves, inclusive
trabalhistas, que nos custam muito caro. O ponto é que a Potência Oriental tem
falado mais alto. Somos imponentes enquanto nação, porém nós não somos
autossuficientes, como se diz por aí. O Leão acordou e quer distribuir riqueza
ao seu povo, por meio do trabalho e não através do vale refeição e dos bolsas-auxílio,
sem critério ou fiscalização. O chinês entendeu que o emprego gera renda,
conhecimento, experiência e ambição e, se todos seguirem o mesmo caminho, a prosperidade
conjunta chegará mais rápido.
Para finalizar, traço o seguinte cenário: o tarifaço foi
imputado pelo governo americano. Como consequência, a China (e outros países),
como válvula de escape, irão pousar fortemente na América do Sul (É sabido que fizeram
essa intervenção de forma expressiva na África.) Em suma: o Red Flag foi sinalizado.
Júlio Damião, estrategista de negócios ao qual acompanho
seus trabalhos tem sido taxativo: no seu entendimento, o Brasil tem que
acordar, (o que significa que as empresas devem ser as primeiras a saírem da
cama, pois o governo sempre se levanta bem mais tarde.) Num ambiente em que os
juros não cairão nas próximas décadas e a taxação americana tem impacto mundial,
pilotar negócios, em alta temperatura e pressão, exigirá mais conexão. Nessa
esteira: ter foco em fluxo de caixa, manter a empresa no tamanho adequado,
manter as margens, fazer a leitura de cenários (o que exigirá uma boa análise
de riscos e oportunidades); fomentar a equipe para segurar o “boi pelo chifre”
e ter a IA como aliada para ganhar produtividade, são itens que devem compor a
pauta de uma Conselho de Administração e suas respectivas Diretorias. Nas
palavras de Damião: para ser competitivo “almoce na América e jante na China”.
Ao término da minha jornada no Oriente, esclareço o seguinte:
se havia algum preconceito, medo ou incerteza sobre o império chinês, esses adjetivos
foram contornados. Pelos contatos que fiz, as reuniões que participei, o
desenvolvimento que assisti e a segurança que senti, acredito que vou jantar
mais vezes com eles. É melhor jogar o jogo do que simplesmente assisti-lo como
mero expectador coadjuvante.
Convido você conhecer mais sobre a China, indicando algumas
referências a seguir do Ricardo Geromel, um executivo que conhece aquele país
há mais de 20 anos. Se informe.
“Zàijiàn”, ou seja, “Tchau”!
Ricardo Geromel:
COMO A CHINA ESTÁ
DOMINANDO O MUNDO (E O OCIDENTE JÁ NÃO TEM CHANCE) | Market Makers #232
Nenhum comentário:
Postar um comentário