Granizo na Europa afeta as cervejas artesanais do Brasil
Com produção da matéria-prima prejudicada, preço e sabor podem mudar
por Ney Doyle – Especial para O Tempo
O preço da cerveja artesanal produzida nas pequenas fábricas próximas a Belo Horizonte pode ficar um pouco mais amargo. No gosto também. Uma chuva de granizo no início do verão europeu atingiu em cheio o maior centro produtor de lúpulos do mundo. Foram quatro mil hectares de parreirais danificados, parte na Tchecoslováquia e grande parte na Alemanha, nas margens do rio Danúbio.
O lúpulo é uma pequena flor, que só nasce em locais frios, responsável pelo amargor e pelo aroma das cervejas produzidas em todo o mundo. Sem ele, a cerveja perde parte de seu encantamento.
Um dos maiores importadores de lúpulo do Brasil está no Paraná. É a Cooperativa Agrária de Garapuava, no centro-sul do Estado. Segundo a coordenadora do local, Margret Wild, os danos variaram entre 10% a 100%. “Em algumas plantações, até as folhas e os braços laterais das plantas foram danificados”, alega.
A Cooperativa ainda não sabe se os efeitos dessa chuva vão atrapalhar os negócios no Brasil. Mas o cervejeiro Bruno Parreiras Cabral, da Cervejaria Küd, com fábrica no Jardim Canadá, em Nova Lima, já sentiu os efeitos. “A produção já chegou a dar uma quebra, ou seja, já tivemos um impacto aqui no Brasil”, diz. Como alternativa, Cabral resolveu reduzir a produção de cervejas artesanais, sem mexer nos preços.
Mas a situação pode piorar. “Sem o lúpulo a que as cervejarias estão acostumadas, o jeito vai ser substituí-lo por produtos dos Estados Unidos ou Japão”, diz o cervejeiro Ricardo Canabrava, da fábrica Bäcker, com 25 anos de experiência. Segundo ele, o aroma e o amargor podem ser semelhantes, mas nunca serão iguais. “Isso não vai atrapalhar nossa produção; apenas os especialistas podem perceber a troca”, enfatiza. Ricardo também explicou que as grandes cervejarias do Brasil não serão afetadas. Segundo ele, que já trabalhou em várias delas, essas cervejarias têm maior capacidade de armazenagem, além de possuir contratos com grandes fornecedores da matéria-prima, “o que não ocorre com as cervejarias artesanais”.
O cervejeiro Herwig Gangl, da Krug Bier, talvez seja o único a não ser atingido pelo granizo europeu. “Utilizo um lúpulo diferente dos outros, plantado em outra região da Alemanha que não foi afetada pelas chuvas”, conta. Segundo ele, pode haver muita especulação a respeito. “Espero que não atinja os meus produtos”.
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