terça-feira, 6 de maio de 2025

Mercado de Tequilas


 Muito além do shot

Destilado mais famoso Do México, a Tequila é redescoberta no Brasil com a chegada de novos rótulos de luxo

por André Sollitto

até pouco tempo atras, o consumidor brasileiro que fosse ao supermercado em busca de tequila teria dificuldade para encontrar boas opções. Os poucos rótulos disponíveis ficavam quase escondidos em algum canto do setor de bebidas. Sem diversidade, seria preciso se contentar apenas com as versões mais populares das grandes marcas distribuídas internacionalmente. O consumo era apenas um: o shot, para ser virado de uma única vez, com sal e limão - e consagrado no bordão “arriba, abajo, al centro y adentro!” É alguns bares ela até poderia fazer parte do clássico coquetel Margarita. Mas era só. Agora, em um novo movimento de redescoberta e de impulsionamento da indústria, o portfólio de opções tem crescido e, com ele, as oportunidades de descobrir o destilado.

Faltam dados específicos de consumo no Brasil, que ainda representa uma fatia bem pequena do bolo. Outros destilados, como vodca, whisky, gin e cachaça, são muito populares. Mas, seguindo a tendência global, especificamente a americana, a expectativa é de que o interesse suba rapidamente. Um levantamento da plataforma Statista Aponta que, em 2013, o mercado dos Estados Unidos vendeu 13,6 milhões de caixas de 9 l de tequila. Em 2022, o número saltou para 28,9 milhões de caixas. O crescimento foi contínuo ao longo dos anos, mas acelerado pela pandemia. E tem se mantido desde então, puxado pela categoria chamada premium, feita com matéria-prima selecionada e maior valor agregado. Lá nos Estados Unidos, 70% das vendas do destilado pertencem a essa categoria.

Para entender a diferença entre elas, é fundamental compreender como a tequila é elaborada. Trata-se de uma bebida com uma rica história. A tequila é um destilado feito de agave azul, um tipo de suculenta muito comum no México, mas presente também nos Estados Unidos e, em pequena escala, na América Central e na América do Sul. As origens remetem o período pré-hispânico: em 250 antes de Cristo. Os astecas já fermentavam o suco do agave para produzir uma bebida cerimonial chamada Pulque.

Quando os soldados espanhóis chegaram ao México, em 1519, passaram a destilar este fermentado, já que não gostavam de seu sabor. Assim, nasceu o vino de mezcal, em referência ao nome pelo qual a planta também era conhecida. A primeira documentação oficial sobre a população de Tequila data de 1608, na cidade de Jalisco. Uma indústria passou a ser formada em torno da reelaboração do destilado e, em 1890, a tequila se tornou o nome oficial da bebida. Na língua Nahault, significa “rocha vulcânica”, em referência ao vulcão adormecido localizado na cidade de Tequila. Em 1902 ,ganhou status de denominação de origem e só pode ser produzida em Jalisco e em seus arredores.

Oficialmente, a tequila é feita apenas de agave-azul. A legislação mexicana determina que os produtores podem adicionar à mistura até 49% de outros álcoois, provenientes de cereais ou milho, por exemplo. Contudo, uma tequila 100% feita de agave tende a ser mais refinada. Há a tequila blanco (no México, a palavra é masculina), transparente, que não passa por envelhecimento. Acho que passam por barricas de madeira ganham títulos de acordo com o tempo de amadurecimento: reposado, de 2 meses a 1 ano; añejo, de 1 a 3 anos; e extra añejo, acima de 3 anos. E adquirem uma coloração amarelada típica. Há ainda uma nova categoria que vem ganhando fama nos Estados Unidos, a cristalino, formada por tequila que passam pelo processo de amadurecimento, mas depois são filtradas com carvão para ficarem transparentes novamente.

Existe outro destilado feito de agave, o mezcal. Este, no entanto, ainda não foi popularizado no Brasil e o consumidor interessado vai sofrer para encontrar uma garrafa à venda. A diferença está na matéria-prima e no modo de preparo. O mezcal pode ser feito com outras variedades de agave. Enquanto a pinha do agave é cozida antes de ser fermentada e destilada para virar tequila, no mezcal ela passa por um processo de cozimento e defumação em um buraco no chão. O sabor defumado é típico, e a bebida vem sendo explorada tanto por produtores artesanais, que lançam rótulos feitos com mais de 30 tipos de agave e brincam com o tempo da defumação, quanto por mixologistas. Na dúvida, cabe a máxima: nem todo mezcal é tequila, mas toda tequila é, também, um mezcal.

No exterior, a bebida tem sido muito usada na coquetelaria. Não à toa, a Cidade do México tem 4 bares entre os melhores do mundo, de acordo com o renomado ranking World’s 50 Best Bars - 2 deles estão no top 10. Em casas como a Licoleria Limantour, os coquetéis são elaborados com diferentes rótulos de tequila e mezcal junto com ingredientes típicos de distintas regiões do país, como Baja, ao norte.

No Brasil, a tendência começa a ganhar força. “Ainda temos 2 grandes desafios para mudar o olhar sobre a tequila”, afirma o mineiro Leonardo Brettas, diretor da marca José Cuervo para a América Latina. “O primeiro é mostrar a versatilidade para inúmeros coquetéis além da tradicional Margarita. E queremos despertar outras formas de consumo, mais próximas de outros destilados premium, que vão além da velha e conhecida forma de beber tequila em doses”. (...)

O movimento da tequila é tão bom que até as celebridades tem buscado um pedacinho do mercado por meio de lançamentos assinados. O Astro Dwayne Johnson, o "The Rock", lançou sua Teremana em 2020 E já vendeu mais de 2 milhões de caixas de 9 litros. O ator Matthew McConaughey e sua mulher, Camila Alves, também tem a sua própria marca, Pantalones. Mark Wahlberg Investiu na Flecha Azul, também em 2020, ao identificar uma boa oportunidade de negócios. Os craques da NBA LeBron James e Michael Jordan tem marcas próprias: Três Lobos e Cincoro, respectivamente. Até a socialite Kendall Jenner assina a 818 Tequila. Enquanto elas não chegam ao Brasil, vale a pena guardar um espaço na mala para trazer algum desses rótulos badalados. Salud!

 Fonte: Revista Plant Project - Edição 43