terça-feira, 29 de maio de 2018

Cervejaria Sustentável

Cervejaria Sustentável: a indústria do futuro
Por Henrique Oliveira*
Ao longo dos anos de estudo e convívio no universo cervejeiro no Brasil e no exterior, vivenciei práticas e processos ligados a este segmento que, se fossem reunidos em uma única fábrica de cervejas, fatalmente essa se transformaria em uma “Cervejaria Sustentável”, ou seja, uma empresa com um forte viés de responsabilidade econômica, social e ambiental. Entre os itens que observei alguns merecem o seu destaque, pois fizeram a diferença para o setor, agregando valor para si e para a sociedade em que convivem.
O uso responsável da água: Principal produto da cerveja, a água é o elemento mais aplicado neste tipo de indústria, desde a formação da bebida até a lavagem de embalagens, máquinas e equipamentos. Um dos processos em que se mais utiliza a água é o resfriamento do mosto por meio de trocadores de calor para que este atinja a temperatura ideal de inoculação das leveduras. O resfriamento rápido, evita a fixação de dimetil sulfeto no mosto, evitando que a cerveja fique com um gosto vegetal. A água, ao invés de ser descartada, é enviada para torres de resfriamento e é armazenada em caixas d’água criando um sistema fechado de circulação interna voltada ao reuso em diversas outras etapas, como por exemplo, na fase de pasteurização de cervejas. A água de chuva é também reaproveitada no ambiente fabril, sendo esta utilizada para a limpeza externa e para molhadura de áreas verdes.
A cevada como fonte de nutrição: O malte de cevada é um dos principais ingredientes da cerveja. Depois de processada a cevada se transforma em bagaço. Para a Cervejaria Krug Bier, localizada em Nova Lima, o bagaço de cevada é enviado para o Seu Carlos, produtor rural que possui uma pequena fazenda no interior de Minas Gerais. Na propriedade rural, o bagaço é separado em duas partes. A primeira é destinada à fertilização do solo por meio de um sistema de adubação. A segunda é voltada à alimentação do gado. O bagaço de malte é ainda aproveitado na própria cervejaria ou ainda por clientes na confecção de pães onde, ao ser misturado com farinha de trigo especial, produz excelentes pães do tipo gourmet. (Nota: em grandes indústrias a cevada vem sendo utilizada como biocombustível, sendo queimada em caldeiras para formação de vapor).
O aproveitamento de gás carbônico: Durante o processo de fermentação, o mosto cervejeiro produz gás carbônico, um subproduto originário da transformação dos açúcares do mosto em álcool. Ao invés deste gás ser enviado para a atmosfera impactando o efeito estufa, este elemento passa por um processo de limpeza e em seguida é compactado em cilindros para ser reutilizado em outras etapas de fabricação da cerveja, seja no processo de sanitização de barris, seja na extração de cerveja em chopeiras ou ainda no envase ou embarrilhamento da bebida. Cervejarias de grande porte possuem tecnologia capaz de comprimir gás carbônico em até 70 bar de pressão, levando-o ao estado líquido, para ser armazenado em cilindros apropriados.
O emprego eficiente da energia: Toda empresa deve ter o compromisso de minimizar o consumo de energia, investido em tecnologias e soluções que possam reduzir seus impactos. Na cervejaria mineira Sátira, o uso de telhas translúcidas no galpão industrial é uma realidade. Os efeitos são a redução eminente do consumo de energia elétrica. Em outras cervejarias, a troca de lâmpadas de vapor de mercúrio ou sódio por lâmpadas de LED (“light emitting diode”), trouxeram economia de consumo, redução de calor e maior longevidade de uso, uma vez que este tipo de luz dura em média 50 mil horas e as demais lâmpadas duram, aproximadamente, 10 mil. A energia solar é também é utilizada no auxílio do aquecimento da água cervejeira, reduzindo o consumo de gás natural, este substituto do gás liquefeito de petróleo (GLP).
A reciclagem de embalagens: Diversas cervejarias no país passaram a praticar a reciclagem visando eliminar desperdícios. A cervejaria catarinense Lohn Bier, reutiliza as diversas sacas de malte as transformando em sacolas, feitas por costureiras da região. Após customizadas, elas são reutilizadas por empregados e clientes. Caixas de papelão, invólucros plásticos, garrafas e latas são enviadas para catadores de materiais reciclados que encaminham para diversas empresas especializadas. Atualmente, o uso de growlers e sifões (reservatórios de cervejas laváveis que são reenchidos, por meio de envasadoras específicas) estão sendo utilizados por consumidores, reduzindo o consumo de garrafas “one way”.
Por fim, outros atos que correspondem à uma Cervejaria Sustentável são: a prática da ética e a conduta da integridade; a contínua atenção e prestigio à comunidade, através da geração de emprego, renda e a formação de profissionais de alta performance, capazes de repensar como são utilizados os recursos atuais, apresentando inovações cada vez mais sustentáveis e; acima de tudo, ser um contribuinte de impostos pagando-os ao Estado e destinando parte destes à projetos sociais, visando a promoção da cultura, do esporte e da educação, (incluindo a conscientização do consumo moderado ou seja “beba menos, beba melhor”), firmando a cervejaria como um membro ativo e bem-vindo na comunidade em que convive e entre os seus clientes, fornecedores e demais stakeholders, que confiam em seus produtos e nas suas convicções e crenças. No futuro, uma cervejaria sustentável certamente será diferencial competitivo de mercado. Vida longa as cervejarias sustentáveis!
Um brinde!
 *Henrique Oliveira é escritor, pós graduado em Controladoria e Finanças pela FGV e é gestor de governança, riscos e Compliance do ramo siderúrgico. Palestrante, é consultor do segmento de cervejarias, proprietário da marca Cerveja Ave César e autor do livro “Brasil Beer – O Guia de Cervejas Brasileiras”. 

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