segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Mercado nacional de cervejas


Boteco São Bento, em São Paulo

Menos sede, menos lucro

Após uma década de alta, o consumo de cerveja estacionou no Brasil desde 2011 e já afeta os resultados de empresas como a Ambev. Para as cervejarias, o cenário está dado: é preciso lucrar mais com menos litros

Por Ana Luiza Leal

São Paulo - Fabricantes de cerveja não estão acostumados a ouvir más notícias sobre o mercado nacional. Os brasileiros não estão entre os maiores beberrões do mundo, é verdade — aqui o consumo por pessoa, na casa dos 60 litros por ano, é menos da metade de países como a República Checa. Mas, na última década, as vendas avançaram quase 60%, e o país virou o terceiro maior mercado mundial do produto, atrás apenas de Estados Unidos e China.

De um lado, a base da pirâmide trocou a cachaça pela cerveja. De outro, quem tem mais dinheiro passou a comprar marcas mais caras. As perspectivas, até bem pouco tempo, eram as melhores possíveis. Mas, de dois anos para cá, a sede do brasileiro está deixando a desejar.

Segundo a empresa de pesquisa Nielsen, o consumo caiu 0,9% em 2011, 0,8% em 2012 e até abril deste ano tinha recuado 6%. Um tombo dessas proporções não era visto há pelo menos duas décadas.

A líder Ambev, que tem 69% do mercado, foi a principal vítima. Para surpresa de analistas e investidores, os volumes da empresa caíram 8% no primeiro trimestre deste ano e 0,4% no segundo — o último resultado, aliás, foi recebido com alívio pelo mercado, que esperava redução de 3% (as ações chegaram a valorizar 5% no dia do anúncio).

A queda afetou a grande fortaleza da companhia — sua capacidade de aumentar a margem de lucro em quaisquer cenários. No segundo trimestre, o lucro caiu 1,1% sobre o ano anterior, para 1,8 bilhão de reais. 

Para uma empresa que acostumou seus investidores a boas notícias, reverter a queda virou prioridade.
“A principal dificuldade é a impossibilidade de aumentar os preços sem que isso se traduza em nova queda de vendas”, afirmou, em relatório, Alexander Robarts, analista do banco Citi. Se não atingirem a meta, os 11 diretores correm o risco de ficar sem 52,5 milhões de ­reais em bônus — o que dá cerca de 8 milhões de chopes Brahma. Procurada, a Ambev não deu entrevista.

O brasileiro está bebendo menos. Primeiro, por uma série de questões conjunturais. Até o último Carnaval, mais chuvoso do que a média, entrou para o rosário de lamentações. A Lei Seca e os arrastões em bares e restaurantes também estão entre os motivos. O movimento em bairros boêmios, como Vila Madalena, em São Paulo, chegou a cair um terço.

A classe C também está com o bolso apertado. Apesar de o Brasil viver um período de pleno emprego, o número de famílias que se declararam endividadas atingiu 65% em julho (o segundo maior resultado da série iniciada em 2010), de acordo com pesquisa da Confederação Nacional do Comércio.

Ao mesmo tempo, o preço da cerveja não para de aumentar. No segundo semestre de 2012, a Ambev — e, na esteira, as concorrentes — subiu o preço 20% por causa do aumento de impostos. O governo decidiu, no ano passado, aumentar 25% a taxação da bebida até 2016. Para piorar a situa­ção, metade do custo de produção da cerveja é atrelado ao dólar, que valorizou acima do esperado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Real Time Web Analytics