segunda-feira, 19 de agosto de 2013

961 Beer

Libaneses esquecem conflitos e descobrem a cerveja artesanal 
PUBLICADO EM 19/08/13 - 03h00
Beirute, Líbano.Beirute, Líbano.Beirute, Líbano. No início do ano, em uma praça no centro de Beirute, cerca de mil pessoas participaram de um festival de rock patrocinado pela 961 Beer, uma das poucas microcervejarias do Oriente Médio. Nas primeiras fileiras, mulheres estilosas ao lado de homens que mostravam forte preferência por camisetas pretas e óculos escuros da moda.
Esqueça a ideia de que a religião ou os efeitos da guerra impedem o sucesso de uma cervejaria libanesa; sim, é verdade que muitos muçulmanos não consomem bebidas alcoólicas, mas muita gente no Oriente Médio adora beber, principalmente no Líbano, onde a pluralidade religiosa inclui uma população cristã robusta. Além disso, as pessoas procuram o álcool durante tempos difíceis, como lembra Mazen Hajjar, o ex-investidor e executivo de uma empresa aérea que fundou a cervejaria.
Na verdade, o problema é outro: “Há 80 anos, o Líbano bebe cerveja leve, espumante. Eu quis fazer cerveja de verdade”, explica. Sua empresa fez aquela que foi considerada a melhor lager do Hong Kong International Beer Awards no ano passado. Além dela, a produção da 961 inclui uma Red Ale, uma Pale Ale, uma Atout, uma Porter, uma Witbier e, a partir de junho, uma IPA, ou India pale ale, escura.
Em 2012, ela vendeu o equivalente a 200 mil caixas de cerveja em garrafas e barris; neste ano, com os lucros das vendas domésticas e exportações, espera fechar as contas no azul pela primeira vez – o que é uma façanha e tanto quando se leva em consideração que a 961 foi fundada depois da guerra entre o Líbano e Israel, em 2006, quando a economia ainda não estava totalmente recuperada da guerra civil que terminou em 1990 e o conflito que flagela a Síria já começava a respingar no Líbano.
“É inacreditável que o Mazen tenha conseguido abrir e tocar o negócio no meio daquele caos. Ele é o Cavaleiro Solitário de lá”, diz Steve Hindy, um dos fundadores da Brooklyn Brewery e ex-correspondente da Associated Press em Beirute.
Hajjar teve a ideia de abrir a 961 em 2005, quando Henrik Haagen, executivo dinamarquês de férias em Beirute, se aproximou dele na rua para perguntar onde ficava um determinado restaurante. Os dois começaram a conversar e perceberam que ambos queriam começar um negócio – e quando surgiu a sugestão de que pudesse ser uma cervejaria, eles arregaçaram as mangas. Haagen voltou para a Dinamarca e começou a mandar lúpulo e grãos, difíceis de achar no Líbano, por UPS e DHL para o futuro sócio.
Origem.
Na cozinha de seu apartamento, ao som dos morteiros que explodiam de vez em quando, Hajjar começou a fazer baldes de cerveja baseado nas instruções de vários livros. Os primeiros saíram horríveis; não passavam de uma meleca gasosa e verde.
Em seguida, vieram as reuniões dominicais, nas quais cozinhava e testava suas novas ales e lagers. O número de participantes só aumentava e, um dia, quando a comida acabou, ninguém pareceu se importar.
Dias depois, dois estranhos bateram à sua porta. “Ouvimos dizer que você faz uma cerveja muito boa; podemos comprar algumas?”. Logo depois, Hajjar e Haagen juntaram dinheiro para começar a microcervejaria. Eles compraram todo o equipamento do Canadá – incluindo tubulação e tonéis de aço para a cocção, resfriamento e fermentação – e o instalaram em um pequeno galpão na periferia da cidade. Então, alugaram outro espaço e montaram um pub que se chamaria 961 Beer, o código telefônico internacional do Líbano.


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